Coller FAIRR Protein Producer Index (2019): LATAM (em Português)

Foco na América Latina

Este relatório é um resumo dos resultados dos estudos da FAIRR para nove empresas baseadas na América Latina. Elas representam 15% das 60 empresas avaliadas no Coller FAIRR Protein Producer Index. Juntas, somam capitalização de mercado de US$ 31 bilhões.

Introdução

Criação intensiva

A criação intensiva, que prioriza a eficiência alimentar e o rápido ganho de peso, agora é prática padrão em todas os rebanhos. Ela ajudou a aumentar a produção global de carne, ovos e leite em 140% desde 1961 e tornou os rebanhos, liderados por gado e porcos, a maior biomassa de mamíferos do planeta.

Na América Latina, a produção e o consumo de produtos de origem animal estão alinhados à tendência global. O consumo de carne de porco e aves registrou um crescimento notável desde 1990, se expandindo em 104% e 230%, respectivamente. O avanço no consumo de aves foi particularmente forte, frequentemente substituindo outras carnes. Diferentemente de outras regiões do mundo, as taxas de consumo de carne bovina são constantes desde 2006. Apesar do baixo crescimento no consumo global do produto, a produção de gado na região da América Latina aumentou 58% de 1990 a 2018. Já o consumo regional de carne bovina aumentou ao lado das exportações de carne bovina: 177% de crescimento desde 1990. Embora esse percentual mostre a crescente importância da indústria na região como um todo, o Brasil superou de longe a média regional, com um aumento de 1.282% desde 1990, tornando-o o maior exportador de carne bovina do mundo.

O rápido crescimento do setor de carnes em muitos países da América Latina resultou em maior acesso a proteínas animais, com impactos econômicos e sociais. No entanto, esses benefícios têm um custo elevado: o segmento é um dos principais agentes dos mais graves riscos ambientais e sociais que o planeta e a sociedade enfrentam. As multinacionais globais envolvidas em pecuária e piscicultura estão, em última análise, na linha de frente do gerenciamento e mitigação desses riscos. A falta de escrutínio no setor fez com que essas empresas pudessem aumentar suas operações, mercados e volumes de produção sem controles claros. Isto cria riscos sistêmicos: não apenas para as empresas, mas também para seus clientes globais de alimentos, investidores, consumidores e sociedade em geral.

A FAIRR Initiative trabalha para catalisar o poder do capital institucional em favor de mudanças na pecuária e na piscicultura. Uma de nossas principais iniciativas de pesquisa é o Coller FAIRR Protein Producer Index. Ele classifica 60 dos maiores produtores de proteína do mundo usando parâmetros de  transparência e gerenciamento de riscos ambientais e sociais. O Coller FAIRR Index é a única referência mundial especializada em criar avaliar os gigantes de proteína animal e apontar as lacunas críticas e as melhores práticas no setor.

O principal objetivo do Coller FAIRR Index é permitir e apoiar a tomada de decisões dos investidores em companhias do setor de proteínas com capital aberto, independentemente de onde suas ações sejam listadas. Esperamos que os investidores integrem os dados e as análises sobre o desempenho desses ativos em suas decisões de administração e investimento. O Cooler FAIRR Index também é uma referência para ajudar as empresas de proteína animal a fazer a autoavaliação em relação aos seus pares e a melhorar o gerenciamento e a divulgação de riscos.

Este relatório é um resumo dos resultados do Cooler FAIRR Index para as empresas produtoras de proteína animal sediadas na América Latina.

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A crescente demanda por carne bovina aumenta o risco dos investidores quanto ao desmatamento

Produção de carne bovina e desmatamento

O Brasil é o maior exportador mundial de carne bovina, contribuindo com cerca de 20% do total das vendas globais. Quase 40% do rebanho bovino do país está na região amazônica, e estimativas indicam que o gado ocupa a maior parte (80%) de toda a área de floresta desmatada desde 2014.

O país despontou como o principal produtor e exportador mundial de carne bovina no início dos anos 2000 por várias razões, que vão desde incentivos governamentais (favorecendo a expansão de fazendas de gado e plantações de soja) à dinâmica dos mercados global e doméstico, que proporcionou ao segmento um cenário favorável ao crescimento.

Historicamente, os governos brasileiros adotaram políticas de reforma agrária para tratar de desigualdades na distribuição de terras e riquezas. Muitas vezes, com ênfase no “uso produtivo” de terras “não utilizadas”, como as florestas. Assim, a criação de gado evoluiu como uma maneira de proprietários e posseiros garantirem a posse da terra na Amazônia. Estima-se que essas políticas, reforçadas por subsídios do governo, causaram ao desmatamento de 15 milhões de hectares  entre 1964 e 1997.

A pecuária  brasileira se beneficiou destas políticas governamentais, mas foi o aumento da demanda doméstica e internacional nos anos 90 que permitiu que a indústria prosperasse. A crescente demanda da Ásia, especialmente da China e de Hong Kong, impulsionou o crescimento geral das exportações. Em 2018, 38% das vendas externas brasileiras de carne bovina foram para a China e para Hong Kong. Em outubro de 2019, a processadora Minerva firmou uma joint venture com empresários chineses para explorar vender carne bovina naquele mercado. Os frigoríficos e produtores de soja brasileiros aumentaram ainda mais suas vendas para a China em 2018 em virtude dos atritos da guerra comercial entre os EUA e a China.

Desmatamento e incêndios florestais na Amazônia em 2019

Produção de carne bovina e desmatamento

No final de agosto de 2019, os incêndios florestais na Amazônia atraíram a atenção da mídia e de autoridades do mundo todo. A crescente demanda por carne bovina, tanto no mercado doméstico quanto no global, está, com toda certeza, aumentando a pressão sobre o ecossistema amazônico, aumentando a probabilidade de ocorrência de incêndios florestais. Apesar dos compromissos de não desmatamento e dos programas de monitoramento dos frigoríficos brasileiros, como JBS, Marfrig e Minerva, o fato de o caminho entre o pasto e o abatedouro ser longo faz com que as companhias não sabiam se o gado comprado provém de áreas desmatadas. Na maioria dos casos, o animal nasce em uma fazenda onde permanece até amadurecer e ser enviado para outra fazendas, para o período de engorda. Dalí é que seguem para as processadoras de carne. É na primeira etapa da cadeia que os frigoríficos precisam aplicar os programas de monitoramento mais eficientes para garantir que o gado não provenha de áreas desmatadas. Um estudo constatou que 15% dos fornecedores indiretos das três principais empresas de carne bovina estão associados ao desmatamento ilegal; a JBS é, potencialmente, a empresa mais exposta aos riscos associados ao desmatamento, com 32 unidades em operação na região amazônica. Em vez de aumentar os esforços para lidar com esse risco, a JBS reduziu a transparência em sua cadeia, limitando as informações públicas sobre a localização de suas fazendas.

A recente cobertura global sobre os incêndios florestais na Amazônia contribuiu para o surgimento de propostas de reação, especialmente por países europeus. A Finlândia pediu à UE que considere proibir as importações brasileiras de carne bovina e, tanto a Irlanda quanto a França, ameaçaram bloquear o acordo comercial com o Mercosul sem caso o governo brasileiro não se mobilize frente ao problema. Se o acordo não for ratificado, os membros do Mercosul devem sofrer forte impacto nas exportações para a União Europeia, que representaram, em 2018, um quinto de seu comércio total de mercadorias.

Os investidores também começaram a responder à crise na Amazônia. A Nordea, uma das maiores instituições financeiras do norte da Europa, está examinando sua participação em empresas com alta exposição ao desmatamento. A instituição informou que deixou de comprar títulos de dívida do governo brasileiro. O exemplo destaca como os investidores globais estão começando a reagir aos riscos de desmatamento.

Principais conclusões

Desempenho da empresa latino-americana

O Coller FAIRR Protein Producer Index de 2019 demonstra que a grande maioria das empresas ainda não enfrentou significativamente os riscos mais básicos de sustentabilidade. Três companhias (Minerva, Grupo Bafar e Industrias Bachoco), avaliadas em US$ 4 bilhões e com receitas combinadas de mais de US$ 8 bilhões, são classificadas como de alto risco (pior desempenho) pelo Índice. Nenhuma das empresas está classificada entre as 10 principais empresas na avaliação de 2019.

Emissões de gases de efeito estufa

  • As nove empresas latino-americanas tiveram uma média de 18% na gestão de emissões de gases de efeito estufa
  • Seis empresas (67%), com valor de US$ 11 bilhões, são classificadas como de “alto risco”, ou seja, elas divulgam pouca ou nenhuma informação quanto às metas de emissões de gases de efeito estufa em suas operações e cadeias de suprimento.
  • Uma estratégia holística sobre gestão do clima exige que as empresas avancem além de fixar metas: devem concluir seu inventário de emissões para incluir todas as fontes significativas nas fazendas e demonstrar reduções ano a ano nas emissões absolutas nos três escopos. Apenas uma empresa, a Marfrig Global Foods, conta com um inventário completo de emissões, o que significa que reportam as emissões agrícolas resultantes da ração animal.

Uso e escassez de água

  • Os sete frigoríficos que têm dependência crítica de recursos de água doce tiveram média de 23% na gestão do uso da água em comparação com 11% alcançados pelos 37 frigoríficos restantes no Índice.
  • Quatro empresas (57%), avaliadas em US$ 10 bilhões, são categorizadas como de “alto risco.”
  • Quando as empresas lidam com a escassez de água, essas iniciativas concentram-se em suas operações diretas, com pontuação média de 7% em medidas de economia de água em ração animal. Por outro lado, o restante dos frigoríficos no Índice obteve uma média de 5%.
  • Apenas três frigoríficos (JBS, Marfrig e Grupo Nutresa) estabeleceram metas específicas de uso de água com prazo determinado para suas unidades. Nenhuma das empresas parece ter metas “diferenciadas de risco”, ou seja, baseadas no contexto local.

Poluição da água na  pecuária  

  • Os frigoríficos do Índice tiveram uma média de 11% na gestão de poluição da água, que é a mesma pontuação alcançada pelos 37 frigoríficos restantes no Índice.
  • Os 7 frigoríficos da América Latina, avaliados em US$ 29 bilhões, são categorizados como de “alto risco” e não revelam a gestão de poluição ligada ao uso de fertilizantes e estrume.
  • Nenhuma empresa atende aos padrões da SASB para o setor, o que exige a divulgação da quantidade de estrume gerado.

Desmatamento e biodiversidade

  • Os sete frigoríficos e laticínios expostos a riscos de desmatamento nas cadeias de suprimento de soja e/ou gado tiveram uma média de 30% na gestão desses riscos em comparação com 4% alcançados pelas 37 empresas restantes no Índice.
  • Quatro empresas (Minerva, Grupo Nutresa, Grupo Bafar e Industrias Bachoco), avaliadas em US$ 7 bilhões, são categorizadas como de “alto risco”. Nenhuma delas divulga medidas de gestão de riscos de desmatamento vinculado às cadeias de suprimento de soja.
  • Nenhuma empresa discute ou aborda os altos riscos de desmatamento relacionados ao Cerrado, que abastece grande parte do setor de pecuária da China e da União Europeia – que importam soja para ração.
  • Os três principais produtores brasileiros de carne bovina (JBS, Marfrig e Minerva) assumiram o compromisso de evitar o desmatamento na Amazônia, embora ainda enfrentem desafios na rastreabilidade nas cadeias de suprimentos indiretas
  • A guerra comercial EUA-China está contribuindo para o aumento das importações chinesas de soja brasileira, intensificando as taxas de desmatamento na Amazônia.
  • As duas empresas de aquicultura, Salmones Camanchaca e Empresas Aquachile, são totalmente certificadas ou estão trabalhando no sentido de obter a certificação completa pelos esquemas de certificação de aquicultura, demonstrando que a certificação se tornou um requisito essencial dos negócios.

Antibióticos

  • As nove empresas latino-americanas no Índice marcaram uma média de 22% em relação a riscos de antibióticos ,contra a média de 20% alcançada outras 51 empresas do Índice.
  • Seis empresas (67%), avaliadas em US$ 28 bilhões, são categorizadas como de “alto risco”. Elas não têm políticas sobre o uso de antibióticos e não divulgam as quantidades nem os tipos de antibióticos usados em suas fazendas.

Bem-estar animal

  • Os sete frigoríficos marcam uma média de 33% em compromissos de bem-estar, e a pontuação é ainda mais baixa em uma auditoria externa e garantia de bem-estar (20%). Em contraste, as 37 empresas restantes tiveram uma média de 20% quanto aos compromissos com bem-estar e 13% quanto a auditoria e segurança.
  • Seis empresas (67%), incluindo produtores de aquicultura, avaliadas em US$ 23 bilhões, são categorizadas como de “alto risco”.
  • Os produtores de aquicultura se concentram em métricas básicas, como densidade de estocagem e taxas de mortalidade, embora Salmones Camanchaca forneça uma declaração de alto nível sobre a importância do bem-estar

Condições de trabalho

  • Seis empresas (66%), avaliadas em US$ 21 bilhões, não discutem a due diligence em direitos humanos para identificar, prevenir e eliminar abusos em suas operações.
  • Nenhuma empresa discute o cumprimento dos Princípios Orientadores sobre Empresas e Direitos Humanos da ONU.
  • Duas empresas (22%), Grupo Bafar e Industrias Bachoco, não divulgam acidentes do trabalho e mortes.

Segurança alimentar

  • Das empresas, 78% têm certificações de gestão de segurança alimentar reconhecidas pela Global Food Safety Initiative (GFSI), que mostra conformidade com os padrões internacionais de segurança alimentar.
  • Apenas duas empresas (22%) oferecem uma descrição de seu sistema de recall de produtos.

Proteínas sustentáveis  

Apesar de o Brasil ser um dos maiores consumidores de carne do mundo, os consumidores vêm mostrando um crescente apetite por produtos vegetarianos e veganos, reforçado pelas preocupações com a saúde, o bem-estar animal e os impactos ambientais. De acordo com pesquisa do Good Food Institute, publicada em 2018, quase 30% dos entrevistados brasileiros estavam procurando reduzir seu consumo de produtos de origem animal ou já eram vegetarianos. Seguindo essa tendência, os principais produtores e varejistas de carne do país estão introduzindo produtos à base de plantas em seu portfólio. A Marfrig Global Foods e a Burger King trabalharam juntas para lançar um novo hambúrguer vegetal depois que 69% dos consumidores consultados pela rede de fast food declararam que provavelmente comprariam uma opção deste tipo, se fosse oferecida.

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